A Polícia Militar de São Paulo informou que liberou o capitão do Exército Willian Pina Botelho,que é de Lavras e foi detido com um grupo de manifestantes na frente do Centro Cultural São Paulo, na região central de São Paulo, antes do protesto contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB), no último dia 4, porque “não foram encontrados indícios de seu envolvimento em ações ilícitas”. Desse modo, ele não foi levado a nenhuma delegacia.
Willian é investigado pelo Ministério Público (MP) como suspeito de ter se infiltrado por meio das redes sociais no grupo de manifestantes usando o nome falso de “Baltazar Nunes”. Sob o codinome de “Balta”, ele se apresentou aos ativistas como uma pessoa descontente com a situação política do país e os teria atraído para uma emboscada.
O homem de cabelos levemente compridos e barba por fazer estava com 21 pessoas, entre adultos e adolescentes, que foram detidas pela PM sob a suspeita de serem black blocs e portarem objetos que seriam usados para depredar o patrimônio público e privado. Mais cinco pessoas haviam sido detidas pela Polícia Militar em outro local pelos mesmos motivos.
Segundo a PM, uma barra de ferro, máscaras contra gás, sprays, vinagre, pedras, lenços, e estilingue foram apreendidos com os detidos, que acabaram levados ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A Polícia Civil os responsabilizou por associação criminosa e corrupção de menores.
Em seguida a Justiça liberou todos por considerar as prisões por averiguação irregulares. Para um advogado que defendeu parte dos manifestantes, as detenções foram “políticas”.
Apesar de ‘Balta’ ter sido abordado pela PM com os demais manifestantes, ele não foi levado ao Deic, o que levantou a suspeita entre os manifestantes de que ele poderia ter se infiltrado para obter informações sobre o grupo.
Uma foto do homem com os demais ativistas detidos pela PM, todos com os braços para trás, circula nas redes sociais, comprovando que a corporação abordou ‘Balta’. Foi essa imagem que o G1 encaminhou para as assessorias de imprensa da corporação e para a pasta da Segurança, pedindo esclarecimentos por que o nome dele não é nem mencionado pelos dois órgãos em qualquer registro policial.
“A Polícia Militar esclarece que a pessoa indicada na foto como sendo um suposto militar do Exército Brasileiro foi apenas abordada e liberada, pois não foram encontrados indícios de seu envolvimento em ações ilícitas. Com esse indivíduo não foi encontrado nenhum material, sendo certo também que não se enquadrava no mesmo perfil daqueles que portavam os objetos apreendidos”, informa a nota da polícia.
“Dessa forma, o indivíduo foi apenas abordado, mas não detido e não encaminhado ao Deic, mesmo procedimento adotado em relação a outras pessoas que também foram abordadas”, conclui a nota, que não respondeu ao questionamento da reportagem se a identificação do “abordado” foi anotado. Policiais ouvidos pelo G1 disseram que a PM não registrou o nome de Willian após abordá-lo e liberá-lo.
Manifestante
No boletim de ocorrência do caso levado pela PM ao Deic não consta o nome de Willian. Segundo a polícia informou à época, um denunciante, que não teve o nome divulgado, acionou a PM para dizer que black blocs se reuniam no Centro Cultural São Paulo antes do ato Fora Temer. Para os ativistas detidos, esse denunciante seria ‘Balta’, ou capitão Willian.
Um dos manifestantes que foi preso no domingo e não quis se identificar confirmou a história à TV Globo. Segundo ele, os jovens foram levados para uma delegacia e Balta, como Willian se apresentava nos protestos, não seguiu com o grupo.
“A gente foi enviado direto para o Deic e, nesse momento que a gente entrou no camburão para ir, o Balta já não foi junto. E aí no chat que a gente tinha no WhatsApp, ele conversando, falou que estavam mandando ele para outra DP porque ele estava com documento falso. E aí meio que morreu o contato. Ele insistiu um pouco na ideia e a gente achou meio suspeito. Como assim só ele vai para outro DP?”, indagou o jovem preso.
Em uma conversa com o professor da USP Pablo Ortellado por meio de uma rede social após a detenção dos jovens, Willian escreveu que não estava ‘infiltrado’ e se disse abalado com as notícias, “andando pela cidade o tempo todo com medo da polícia e deles estarem me seguindo”. Também afirmou que pretendia “dar um tempo para cuidar da família”, alegou ter ido ao médico e “avaliado por estresse”. Revelou estar “esquecendo as coisas”. Em nenhum momento, ele confirmou ser capitão do Exército.
SSP, PM, Deic e Exército
Em comunicados anteriores à imprensa, a Secretaria de Segurança Pública informou desconher qualquer ação de inteligência que tenha sido feita entre a Polícia Militar e o Exército. “A instituição também não conhece o homem apontado pela reportagem como um suposto oficial das Forças Armadas”, alegou a pasta numa de suas notas.
Em outro comunicado, a SSP informou que “o Deic desconhece a existência de um oficial infiltrado e garante que todos os detidos apresentados no departamento foram qualificados no boletim de ocorrência”.
Em nota divulgada no início desta semana, o Exército confirmou que o capitão Willian é oficial do Exército lotado no Comando Militar do Sudeste e ressaltou que as circunstâncias ainda estão sendo apuradas.
MP e Condepe
O Ministério Público de São Paulo vai investigar a suspeita de que Willian se infiltrou no grupo de manifestantes que foram detidos pela PM antes do ato contra o governo Temer, no último dia 4. A presença do oficial levantou a suspeita sobre a legalidade da detenção dos suspeitos.
Segundo a promotora de Justiça Luciana Frugiuele, integrante do Grupo de Ação Especial para o Controle Externo da Atividade Policial (Gecep) do MP, os 21 manifestantes detidos serão chamados para depor, e o o capitão do exército também pode ser chamado.
O líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (PSOL), pediu oficialmente ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, esclarecimentos sobre o caso.
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) protocolou, na quarta-feira (14), pedidos de apuração de ilegalidades cometidas durante a prisão de ativistas antes do protesto. Os documentos foram enviados para Marlon Alberto Weichert, procurador da República em São Paulo; Gianpaolo Poggio Smanio, procurador-geral de Justiça de São Paulo; e Mágino Barbosa Filho, secretário da Segurança Pública.
Segundo Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe, é preciso apurar o envolvimento do Willian, que usou codinome de “Balta” para conversar com manifestantes por meio de redes sociais. “Precisamos saber se ele agiu como um possível agente provocador, gerando indícios de flagrantes preparados com o apoio do citado agente de inteligência do Exército.”
Fonte: G1