Mais uma relevante descoberta sobre a biodiversidade de cavernas foi feita recentemente por pesquisador da UFLA: a espécie Dobrodesmus mirabilis, um piolho de cobra, foi encontrada em uma caverna de calcário no estado da Bahia pelo professor Rodrigo Lopes Ferreira, do Departamento de Biologia da UFLA (DBI).
O aspecto que mais chamou a atenção é que o Dobrodesmus mirabilis possui 40 segmentos (anéis) ao longo do corpo, enquanto outras espécies da sua ordem (Polydesmida) só possuem a metade. Essa e outras especificidades levaram os pesquisadores a proporem uma nova subordem, na qual o animal foi inserido: Dobrodesmidea; e uma nova família: Dobrodesmidae. Outra característica destacável é que os seus gonópodes (apêndices reprodutivos) são bastante primitivos, semelhantes aos de espécies de outras ordens (Callipodida e Stemmiulida). A descrição foi publicada no periódico Zootaxa no final de outubro.
A primeira coleta de Dobrodesmus mirabilis foi feita em 2007 na gruta da Mangabeira, em Ituaçu (BA), no âmbito do Projeto Ecologia e Conservação de Cavernas da Caatinga Brasileira. “Tudo apontava que se trataria de uma nova ordem. Enviamos o exemplar encontrado para o professor William Shear [Hampden-Sydney College, EUA], um dos maiores especialistas em diplópodes, que ficou bastante interessado”, conta o professor Rodrigo.
E, mesmo tendo visitado a caverna em cinco ocasiões, somente dois exemplares (um macho adulto e outro imaturo) foram encontrados. A gruta possui uma história bicentenária de utilização religiosa e turística, que causa grande impacto no ambiente. Sua entrada foi modificada, possuindo escadaria e um altar; e cerca de 800 metros da caverna são iluminados. Anualmente, ocorre uma romaria na qual os peregrinos atravessam os três quilômetros da caverna à luz de velas. “Os exemplares foram encontrados em áreas afastadas do trânsito de turistas. Essa raridade demonstra que se trata de uma espécie extremamente ameaçada, e aquele é o único habitat dela”, explica o professor.
Encontrar e descrever uma espécie de uma nova ordem é um fato incomum: “Chegar a esse alto nível taxonômico é difícil. O estudo do Dobrodesmus mirabilis melhora a compreensão do processo evolutivo da classe Diplopoda e mostra que ainda há muita biodiversidade a ser descoberta, inclusive em áreas cavernícolas – por isso, é tão importante sua preservação”, destaca Rodrigo.
Fonte: Diretoria de Comunicação – UFLA