Polícia Civil conclui inquérito e diz que Jamille mentiu no caso do Posto Graal

outubro 20, 2017

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) finalizou o Inquérito Policial de suspeita de injúria racial e tentativa de subtração de menor, narradas por Jamille Stephanie Sales Azevedo, de 22 anos, em junho deste ano.

Os supostos crimes teriam ocorrido no Posto Graal, em Ribeirão Vermelho, durante a parada do ônibus que Jamille viajava com sua filha. Após minuciosa investigação, a PCMG concluiu que a narrativa apresentada inicialmente por Jamille foi fictícia e, em razão disto, ela deixou de figurar como vítima de tentativa de subtração de menor e injúria racial e foi indiciada pelo crime de denunciação criminosa.


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jamile

O caso

“Eu me vi perdendo a minha filha simplesmente por ser negra e ela não”, disse Jamille Edaes, de 22 anos, ao denunciar ter sido vítima de racismo ao mesmo tempo em que uma mulher tentava roubar-lhe o bebê em uma parada de ônibus na BR-381 em Perdões, na noite de segunda-feira, 26 de junho. Jamille, que é negra, contou ter sido acusada por funcionários do estabelecimento de ser “sequestradora” da própria filha, de 1 ano e 5 meses, que tem a pele branca. Só não a perdeu porque levava todos os seus documentos na bolsa e ainda um vídeo do parto no celular. Ela registrou ontem um boletim de ocorrência sobre o episódio “desesperador”.

De acordo com a Jamille, ela passou o fim de semana com o marido, que mora na capital paulista, e embarcou para retornar a Belo Horizonte na noite de segunda-feira. Após quatro horas de viagem, o ônibus parou em Perdões e ela desceu com o bebê para lanchar. “Foi então que entrei no banheiro e uma moça deu a mão para a minha filha e começou a brincar. M. é uma criança muita tranquila, todo mundo brinca com ela e não me importei. Mas, de repente, a mulher começou a gritar: ‘Essa filha é minha!’”, contou a vítima. Assustada, ela pegou a menina no colo.
Foi naquele momento, sustenta Jamille, que uma faxineira da lanchonete perguntou à outra mulher, que tem cerca de 30 anos: “Essa preta aí pegou sua filha?” “Foi quando todos questionaram se eu era mesmo mãe da criança”, afirma Jamille. Ela conta que a mulher que tentou sequestrar M. tinha em mãos uma certidão de nascimento de uma menina chamada Jéssica, que teria 1 ano e 8 meses. Nesse momento, relata, a mulher continuou a gritar que M. era filha dela e acusou Jamille de sequestradora. “A faxineira puxou M. do meu colo e a entregou para a mulher. Ela disse que M. jamais poderia ser minha filha porque ela é branca e eu sou negra”, afirmou. Segundo Jamille, outros três funcionários da lanchonete – duas mulheres e um homem – ajudaram a arrancá-la do seu colo. A mulher teria chegado a colocar a criança dentro do carro e a posicionado em uma cadeirinha de bebê.

“Eu fiquei muito apavorada e não sabia como provar o contrário. O motorista do ônibus me perguntou como eu havia conseguido embarcar com ela e me lembrei que o RG e o CPF estavam em minha bolsa”, contou Jamille. Segundo Jamille, foi preciso mostrar para várias pessoas todos os documentos, além de um vídeo do parto que estava no seu celular para provar que a criança é sua filha e conseguir que a ajudassem a resgatá-la. Ela diz que tentou registrar uma ocorrência imediatamente e denunciar a discriminação racial e a tentativa de sequestro. “Quando todos acreditaram em mim, o motorista disse que não poderia me esperar. Estava tão apavorada e com medo que fui embora”, contou. Ao tentar registrar a ocorrência na rodoviária, mais um problema. “Eles (policiais) zombaram de mim e disseram que era impossível sem os dados da mulher. Eu não tinha nem o nome dela”. A ocorrência só foi finalmente registrada na Delegacia da Mulher de Betim.

O marido de Jamille, Roberto Edaes, de 25, diz que o caso expõe o racismo que há no país. “Infelizmente não será a primeira vez nem a última que ocorrerá esse tipo de situação. Aquelas histórias absurdas que nossos pais nos contam acontecem de verdade. Como dizia Renato Russo, vivemos em um mundo doente”, diz.

Ele considera inclusive que as pessoas podem ter agido dessa forma porque se tratava de uma mulher. “Se fosse com um homem negro e a filha branca também haveria esse mesmo questionamento? Precisamos debater isso, precisamos ficar atentos”, completou.

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