A profunda crise econômica pela qual passa o Brasil fez secar a fonte de concursos públicos federais, que englobam algumas das carreiras mais cobiçadas do país. Até 2014, a média de vagas autorizadas pela União era superior a 20 mil, segundo a Associação Nacional de Proteção e Apoio ao Concurso Público (Anpac). Nos últimos dois anos, entretanto, as provas minguaram e esse número despencou. E segundo o Ministério do Planejamento, as perspectivas para 2017 são praticamente nulas.
“Em 2016, houve autorizações somente para substituição de terceirizados e para o cumprimento de decisões judiciais. Situações como essas também poderão ocorrer em 2017. No entanto, não existe, até o momento, nenhuma programação de autorização para a realização de novos concursos no próximo ano. Os concursos públicos no Poder Executivo Federal permanecem suspensos, como medida de ajuste fiscal”, informou a assessoria de imprensa do órgão, em nota.
A notícia do “congelamento” dos concursos, já expressada pelo ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, caiu como uma bomba para concurseiros. As provas para os órgãos da União são as “queridinhas” dos candidatos, uma vez que os cargos têm os maiores salários. Cursinhos preparatórios amargam queda de até 50% de estudantes nas salas de aula.
“Até 2014, os concursos estavam bombando. Com todo o problema do país, 2015 foi péssimo e 2016 está pior ainda. A esperança é a economia reagir e a situação melhorar em 2017”, diz a diretora-executiva da Anpac, Maria Thereza Sombra.
Para o sócio do grupo Ideal Cursos, Valdir Latorre, que viu a clientela cair pela metade, a debandada iniciou-se ainda em 2015. “Tudo começou quando a ex-presidente Dilma anunciou a paralisação dos concursos por conta da crise, desestimulando muitos alunos”, lamenta.
No Pleno Preparatório, a apreensão de quem vive em meio aos livros e sonha com a estabilidade do emprego público resultou em uma redução de 20% nos matriculados. “O contexto político e econômico acabou impactando. Com medo de não sair o edital, muita gente adiou o curso. E outros ficaram sem dinheiro e se viram obrigados a esperar para investir na preparação”, diz a diretora do Pleno, Cristiane Mota.
No entanto, ela defende que há outros concursos que escapam do corte. “O Tribunal de Justiça de Minas, por exemplo, tem orçamento próprio e já está com a comissão organizadora e examinadora formada. Só falta a publicação do edital. É preciso estar ligada nas oportunidades”, afirma a diretora.
BATALHA – Elizabeth de Castro foi demitida em julho e quer fazer concurso na área jurídica
Demissão e estudo
Demitida em julho deste ano, a assistente social Elizabeth de Castro, 31, viu na crise a chance para dar uma guinada na vida profissional. Com o dinheiro do acerto, pagou R$ 1.500 à vista por um curso preparatório com duração de quatro meses. “Gosto muito da área jurídica e estou aproveitando o tempo que tenho livre para intensificar os estudos”, diz ela.
Especializado em processos seletivos na área jurídica, o Supremo Concursos não foi tão impactado pela tesourada da União nos concursos. “Como órgãos como Tribunal de Justiça e Ministério Público têm independência financeira, as provas continuam. Alguns estados e municípios, menos combalidos com a crise, têm realizado processos seletivos também”, esclarece o diretor-geral, Frederico Neder.
A diretora-executiva da Anpac, Maria Thereza Sombra, é menos otimista. “Os estados estão quebrados. E as estatais estão enxugando os custos, fazendo inclusive PDV (Plano de Demissão Voluntária). A máquina pública precisa funcionar bem, mas os governantes têm que colocar a mão na consciência”, diz.
Conforme o Hoje em Dia mostrou na edição de ontem, empresas públicas têm incentivado demissões e aposentadorias. Só o Banco do Brasil incentivará a saída de 18 mil trabalhadores em função do fechamento de agências. Essas vagas não serão reabertas.
Fonte: Hoje em Dia