O governo do Estado orientou os agentes penitenciários, ameaçados após rebelião na Penitenciária Dutra Ladeira, a esconderem sua profissão. O memorando com a recomendação, distribuído pela Assessoria de Informação e Inteligência da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), é de terça-feira (17), um dia após o motim na unidade de Ribeirão das Neves e data em que começaram a circular pelo WhatsApp mensagens com ameaças. Enquanto a categoria cobra ações mais incisivas do poder público, o Estado informou que “está apurando as circunstâncias de todos os áudios e vídeos gravados supostamente dentro de uma unidade prisional e que circularam nas redes sociais”.
Entre as orientações estão a de não usar nenhuma peça do uniforme no trajeto entre a casa e o trabalho e a de optar por rotas alternativas. Além disso, o agente deve evitar postagens nas redes sociais que remetam à profissão e manter o alerta em dias de folga e em eventos sociais. O registro de um boletim de ocorrência e a comunicação imediata à assessoria de inteligência no caso de qualquer fato que fuja à normalidade também fazem parte das recomendações vindas do governo.
No documento, a justificativa para as orientações é o atual cenário de crise no sistema prisional do país. O texto ainda informa que os cuidados devem ser redobrados nas regiões onde há “atuação de organizações criminosas intra e extramuros”. A mesma recomendação havia sido publicada no dia 6, mas voltada exclusivamente para os agentes que atuam nas regiões do Triângulo e do Alto Paranaíba. Como O TEMPO mostrou ao longo da semana, a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) domina os presídios das duas regiões, e seus líderes são apontados como mandantes dos assassinatos de três agentes nos últimos dois anos.
O governo salientou, no entanto, que as recomendações para que os agentes penitenciários mantenham a profissão em sigilo “são antigas e, eventualmente, reiteradas a todos os agentes de segurança penitenciários” e que não se trata de um “caso excepcional”.
Protocolar.
O presidente da Associação Mineira dos Agentes de Segurança Prisional (Amasp), Diemerson Souza, afirmou que, por conta própria, a maioria dos servidores já adota as medidas de segurança e salientou que o memorando expõe a situação de fragilidade em que vivem os servidores. “O agente é um representante do Estado, e quando ele é obrigado a mudar a rotina porque senão será atacado é uma representação de como o Estado é hoje um refém do sistema prisional”, afirmou.
Um servidor da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, que pediu anonimato, defendeu que o memorando da secretaria é apenas “protocolar”. Segundo ele, os agentes já são conhecidos dos presos, em especial porque moram perto e usam o mesmo sistema de transporte de seus familiares. No caso da Nelson Hungria, eles estariam agora ainda mais expostos, já que 12 dos 14 detentos transferidos após a rebelião da Dutra Ladeira estão agora isolados na unidade de Contagem.
“O líder do tráfico no entorno da Nelson Hungria está na unidade, ele tem casas na região. Todo mundo sabe quem a gente é”, disse.
Diretor pivô de rebelião ouve parentes de presos
O diretor da penitenciária Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, Rodrigo Machado, recebeu nessa quarta-feira (18) na unidade da região metropolitana uma comissão de parentes de presos. A reunião com o dirigente que seria o pivô da rebelião de segunda-feira, foi uma das determinações de audiência realizada pela manhã na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Machado ouviu as reclamações dos familiares.
No encontro com os deputados também foi formada uma comissão de parentes de presidiários de todo o Estado. O grupo estará em contato direto com autoridades de segurança, parlamentares e a OAB. O secretário adjunto de Estado de Administração Penitenciária, Robson Lucas da Silva, prometeu apurar todas as reclamações e compartilhou, inclusive, seu número de telefone.
“Faltava esse diálogo. A gente não tinha com quem reclamar e apresentar nossas queixas. Acho que esse canal direto com o secretário vai ser importante para que a gente possa fazer nossas denúncias”, comemorou Keyla Lima, mulher de um preso por homicídio.
Apesar de ter prometido apurar as denúncias, o secretário voltou a afirmar que Machado, considerado linha dura, será mantido no cargo.
Fonte: O Tempo