Brasil registra um acidente aéreo a cada dois dias em 2025

fevereiro 12, 2025

Queda de avião que matou empresário mineiro na BA se soma outras 22 ocorrências graves no ano. Especialistas relacionam escalada ao aumento da frota de aeronave

o ultraleve caiu no distrito de cumuruxatiba, na cidade de prado, no sul da bahia. O piloto e dono da aeronave sobreviveu


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crédito: Redes sociais/Reprodução

Com a queda de um avião de pequeno porte em Prado, no Sul da Bahia, o Brasil chegou à marca de um acidente a cada dois dias de 2025. Ao todo, até ontem, conforme o painel do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), foram registrados 23 acidentes e incidentes graves ao longo de janeiro e os primeiros dias deste mês. Sete deles foram fatais e, até o momento, 11 pessoas morreram em decorrência de quedas de aeronaves. Na última ocorrência, no fim da tarde de segunda-feira (10/2), um empresário mineiro morreu e o piloto ficou ferido quando um ultraleve caiu e explodiu próximo à Praia da Barra do Cahy, em Cumuruxatiba, na Bahia.

Por trás da escalada, apontam especialistas, está um aumento da frota de aeronaves de pequeno porte e do número de horas de voo desde o início da pandemia de COVID-19, que assinalam ainda que, dependendo do tipo de operação, as exigências de segurança são menos rígidas.


O empresário Fredy Tanos é uma das vítimas da queda do avião na segunda-feira. Natural de Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais, o farmacêutico bioquímico era diretor da rede de diagnóstico Laboranálise, que possui três unidades na cidade. Pelas redes sociais, a empresa lamentou a morte de seu fundador. “É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do nosso diretor, Fredy Tanos. Neste momento de dor, expressamos nossas mais sinceras condolências à família, amigos e colaboradores”. O empresário ficou preso às ferragens e teve o corpo carbonizado.

Além do mineiro, o piloto Mário Alessandro Gontijo de Melo, identificado como proprietário da aeronave, teve ferimentos pelo corpo e foi encaminhado, lúcido, ao Hospital Luís Eduardo Magalhães, em Porto Seguro. Segundo os bombeiros, ele é proprietário da aeronave e ex-secretário municipal de Saúde de Eunápolis (BA), na região ao sul do estado.

Até o momento, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) não identificou o que provocou a queda. Registros apontam que a aeronave voava baixo na hora do acidente, mas ainda não se sabe o que causou a queda. De acordo com o Sipaer, o equipamento era um ultraleve experimental. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), esse tipo de transporte é construído a partir de um kit do projeto de uma Aeronave Leve Esportiva (ALE), por um fabricante ou por terceiros. “As ALE-Experimentais possuem limitações de operação e são impedidas de realizar atividades remuneradas”, aponta a agência.

Ao Estado de Minas, o Cenipa informou que agentes do Segundo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa II), com sede em Recife (PE), foram acionados para investigar o caso. “Durante a Ação Inicial, são aplicadas técnicas específicas por profissionais qualificados e credenciados, responsáveis pela coleta e confirmação de dados, preservação dos elementos, verificação inicial dos danos causados à aeronave ou pela aeronave, e pelo levantamento de outras informações necessárias à investigação”, explicou o órgão em nota.

AUMENTO DE ACIDENTES

O número de sinistros aéreos nos últimos dois meses fechados – dezembro de 2024 a janeiro de 2025 – chegou a 41, sendo 11 fatais, que provocaram a morte de 24 pessoas. O incremento é de 46,4%, na comparação com igual período anterior, já que no último mês de 2023 e no primeiro de 2024 houve 28 acidentes aéreos, sendo nove fatais, com 23 mortes.


Apesar da elevação na comparação dos números absolutos,o diretor-técnico da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), Raul Marinho, afirma que esse salto não se repete quando se leva em conta outras variáveis, como a quantidade de acidentes por milhão de horas voadas ou por milhão de decolagens realizadas. Nesse caso, os dados apontam uma estabilidade.

Segundo o especialista, o aumento no número absoluto de sinistros está relacionado ao aumento da frota e horas voadas. “De fato, os números estão aumentando ou aumentaram no último ano, e agora estamos tendo um mês horroroso, em termos de segurança de voo. Da pandemia para cá tivemos um aumento de aproximadamente 42% na frota de jatos executivos e de quase 60% em turboélices, como foi o caso da aeronave que caiu na última sexta-feira em uma avenida na Barra Funda, em São Paulo. De qualquer maneira, a quantidade de acidentes está muito acima do que a gente gostaria”, diz.

OS PERIGOS

Segundo o Sipaer, 12 aeronaves que se envolveram nos acidentes registrados em 2025 estavam sendo usadas em operações agrícolas e seis em operação privada. Marinho explica que o primeiro segmento está mais suscetível a sinistros, uma vez que seu plano de voo inclui pouca altitude e velocidade. A primeira característica impede que o piloto tenha tempo de recuperar a altitude, caso haja algum problema na aeronave, “já que está muito próximo do chão”. “E também, ele voa em uma velocidade muito baixa, e isso significa que fica muito próximo do Stol, que é quando o avião perde sustentação por questão de velocidade”.

Já na aviação privada, o especialista aponta diferenças em relação às operações de táxi aéreo – que têm menor incidência de acidentes, dois no período analisado. Como causa principal, o diretor-técnico da Abag aponta a flexibilidade nas regras de segurança como: quantidade de comandantes, horas de experiência e redução de requisitos de operação. Conforme Marinho, em operações privadas, dependendo do tipo de aeronave, é permitido apenas um piloto. Além disso, em caso de profissionais, é necessário 150 horas de voo. Se for “piloto-proprietário” a experiência exigida cai para 40 horas.

“Em um táxi aéreo, (é preciso) um gestor responsável, um diretor de operações, um diretor de manutenção e um diretor operacional, no mínimo. Enquanto que a aviação privada pode operar só com um gestor, que faz tudo e fim de papo. Então, você não tem uma supervisão. Não tem a necessidade de controlar a sua manutenção com um engenheiro aeronáutico operando, como é no caso do táxi aéreo, você simplesmente faz uma revisão anual, e pelas regras está tudo certo”, disse.


TRANSPORTE SEGURO

Apesar da quantidade de acidentes, Joselito Paulo, diretor-presidente da Associação Brasileira de Segurança de Aviação (Abravoo) afirma que, ao analisar os dados dos últimos 10 anos, é possível verificar que não houve grandes variações no número de acidentes aéreos, o que mostra que o avião ainda é o meio de transporte mais seguro. Entretanto, há uma disparidade no rigor dos parâmetros de segurança entre aeronaves de pequeno e grande porte.

“A regulação, fiscalização, a solicitação de itens de segurança e a quantidade de pessoas que trabalham em uma aeronave de pequeno porte é muito inferior do que para uma aeronave de grande porte, que transporta mais de 100 pessoas. Quando ocorre um evento desses (de grandes proporções), devemos estar antenados para verificar o que aconteceu para evitar outros”.

Para o diretor da Abravoo, estatisticamente, no Brasil viajar de avião continua sendo seguro. Parte disso, segundo ele, é creditado à fiscalização e regulamentação. “Nós temos uma agência reguladora com alto índice comprovado por auditoria externa, ou seja, nossos parâmetros, nossa regulamentação, legislação é nível de excelência. Eu me sinto muito tranquilo para viajar de avião. Nós estamos sujeitos a erros e falhas e temos que aprender com eles”.

Procurada, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) informou que existe uma regulação estruturada voltada às operações da aviação geral, que se inicia com a certificação das aeronaves e seus componentes; dos pilotos e dos mecânicos; das oficinas; das escolas de pilotagem e da infraestrutura aeroportuárias. Segundo a Anac, a ausência de habilitações válidas ou de vistoria anual impedem a operação das aeronaves.

“As aeronaves devem ter sua condição técnica anualmente reportada por uma organização de manutenção e os pilotos precisam revalidar suas habilitações a cada dois anos no mínimo, demonstrando que mantêm a proficiência para operar o equipamento. Os pilotos também devem manter seu certificado médico aeronáutico válido, realizando exames periciais pelo menos anualmente”, informou a agência.

OUTROS ACIDENTES

Minas Gerais registrou dois acidentes aéreos neste ano. No primeiro, em 22 de janeiro, um avião agrícola caiu durante uma manobra matando o piloto, que estava sozinho. Cinco dias depois, um helicóptero caiu em uma fazenda de Cruzília (MG), matou três pessoas: o piloto Fernando André Ferreira, o gerente da fazenda, Lúcio André Duarte e a esposa dele, Elaine Moraes de Souza. Um outro avião agrícola caiu no mês passado, matando o piloto no acidente em Canarana (MT). Ainda em fevereiro, na última sexta-feira (9), um avião de pequeno porte chocou o Brasil ao cair na avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista.

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