Moradores de municípios abastecidos pelo Rio Grande no Sul de Minas estão sofrendo com falta de água frequente devido à estiagem. Ao todo, 107 cidades são banhadas pela bacia do Rio Grande, sendo que 55 ficam na região Sul.
Em Perdões, por exemplo, a captação de água funciona as margens do Rio Grande. O local fica a cerca de um quilômetro da Usina do Funil, mas mesmo assim, na semana passada faltou água na cidade.
“A Represa do Funil tem uma vazão mínima compactuada com a Copasa de 60 metros cúbicos por segundo. Essa vazão ficou abaixo do limite estipulado e, com essa falta, as bombas desarmaram, causando o desabastecimento da nossa cidade”, explica Leocordeiro Moreira, secretário de Administração de Perdões.
Sem água, a Santa Casa correu risco de cancelar atendimentos, já que o reservatório só tem capacidade pra atender por 24 horas o único hospital da cidade.
“A informação que nos deram é que não poderiam fazer nada, que não tinha o que a Copasa fazer. Para não fechar o hospital, nós fomos atrás do pessoal da prefeitura, Secretaria de Saúde do município, e através do prefeito, foi onde veio o caminhão que trouxe água o suficiente para dois dias do hospital”, diz Aderlei Freire, provedor do hospital.
O empresário Erli Aparecido de Sá também foi pego de surpresa e precisou parar por dois dias a produção de blocos de cimento. Ele diz que teve prejuízo de mais de R$ 3 mil.
“Como eu pago uma taxa maior, acho que deveria avisar para a gente que ia faltar água para que não produzisse, né? Dispensasse os empregados, fizesse outra coisa”, diz.
Pra o especialista Afonso Henrique Moreira Santos, há um conflito entre a operação de energia da usina e a captação de água, já que na Política Nacional de Recursos Hídricos, a prioridade é o abastecimento humano.
“Nós ainda vemos que, no caso brasileiro, quem opera os reservatórios, quem decide como operar, é o setor elétrico. E daí vêm conflitos como esse que estamos vivendo agora, abastecimento urbano e a questão da geração de energia elétrica na Usina do Funil”, afirma.
A Prefeitura de Perdões também não descarta outras medidas para conter a falta de água.
“Eu gostaria de pedir à população que economizasse água na medida do possível, porque existe o risco sim de desabastecimento e talvez até de um racionamento pela Copasa”
A Usina do Funil informou que no dia 6 de setembro houve a abertura das comportas do vertedouro da usina, mas que tratou-se de atividade operativa que segue as normas estabelecidas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS)e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A administração afirmou ainda que não existe relação entre a água utilizada pela usina para geração de energia e a água utilizada para abastecimento das cidades.
Já a Copasa afirmou que o abastecimento está sendo realizado normalmente e que após uma reunião com a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), responsável pela operação da Usina do Funil, ficou definido que a liberação de água estará sempre ajustada com as necessidades da Copasa.
Em Perdões, a companhia realiza a captação de 80 litros por segundo de água no Rio Grande, para o abastecimento do município.
Fonte: G1